Wednesday, March 07, 2007

Os nossos anjos da guarda

Em 1975, mais propriamente no dia 1 de Janeiro, nasceu um jovem cachorro de raça Caniche Gigante e de cor preta. O seu destino seria o de dedicar a sua vida à família Lourenço. Foi em Março, que após um processo muito complexo de tomadas de decisão, os meus pais, na altura sem filhos, resolveram comprá-lo numa loja de animais do então novo Centro Comercial de Alvalade. Pela experiência de vida do meu pai, quando em 1960 viveu em Macau, o cão, na altura cachorro, viria a ser chamado de “Saiko”, que significa em Chinês, pequeno. Quando tudo apontaria para uma vida a três, a mãe, o pai e o cão, eis que viria a notícia da vinda de um novo membro… eu. Nasci no dia 9 de Dezembro desse ano.

Foi na realidade uma aventura impar para mim e para o Saiko, a infância, que ambos percorremos, com apenas onze meses e oito dias de diferença, sem que nem por um dia nos tivéssemos separado. Dizem que na praia, seria sempre o cão a tomar conta de mim, sempre atento às minhas investidas pelo mar dentro, à semelhança do Mogli, o rapaz da selva. Foi um companheiro inesquecível, e para o meu pai, um anjo da guarda, a sua sombra e cofre de confissões. Assistia mudo a tudo, ás tristezas e alegrias, aos desesperos e sinfonias. Muitas vezes recordo a fúria com que o meu pai ficava, quando o cão tropeçava nas suas pernas, pois isto de ser sombra tem muito que saber. Era um cão exemplar, astuto, com uma inteligência prática impar. Buscava a toalha para tomar banho ou a colher de pau para pedir comida, e sempre que ia à rua ladrava ao senhor da churrasqueira, para tocar à campainha do primeiro andar esquerdo da Rua Duarte Pacheco Pereira. Uma vez foi roubado e esteve cerca de cinco dias desaparecido, tendo conseguido fugir de alcatraz, e voltado através do seu GPS sofisticado montado na mira dos seus olhos, para casa, num estado físico de batalha, com menos uns quilos e de língua cansada. A História, só ele é que a sabe, mas o dia de regresso foi sem dúvida muito feliz.

Achei importante lembrar esse autêntico anjo de quatro patas que em muito enriqueceu esta família, e que nos deixou um vazio aos onze anos de idade, vítima de doença prolongada…

Só mais tarde é que eu vim a perceber o meu pai, como em tudo na vida, quando se enfurecia com a sua própria sombra, quando em 2004, no dia 2 de Junho, fiz 500 quilómetros para ir buscar, ou salvar, aquele que viria a ser até hoje a minha primeira experiência paternal, o meu cão, de nome Tomás e de raça Labrador, de cor preta.
São únicos os momentos que até hoje este amigo me tem proporcionado, e é quase que comovente a dedicação que este nos tem dado. É muito alegre, aliás, de mais, e carente, sempre à espreita de uma oportunidade para uma festa ou para um lugar no trono do reino dos sofás. Para nós, família e amigos, é um super cão, para outros, e principalmente estranhos que tentem entrar ou espreitar para dentro do seu território, é um autêntico “Fuzileiro” de guarda.
Andou na escola de treino e passou sempre com distinção todos os desafios propostos. Não fosse um problema de tendinite e ainda hoje saltaria obstáculos e demonstraria obediência com muita vaidade. Tem um lugar muito especial na família e dou graças aos Deuses por mo terem enviado…
...o meu anjo da guarda… Tomás.

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