Tuesday, October 10, 2006

Only a Coincidence

"Continuei a andar sem olhar para trás, mas algo me dizia que iria ser uma tarde longa...

Sentei-me na esplanada. Como eu adoro estas tardes solitárias de leitura e observação. Pedi um café e uma garrafa de àgua, e começei a desfolhar uma revista que tinha comprado no caminho. Era uma daquelas revistas com muitas fotos e letras gordas, que dizem exactamento o mesmo que o título com mais algumas invenções e pontos parágrafos. Acendi um cigarro e ajeitei a cadeira de forma a encontrar a sombra.

Não era a primeira vez que exercia esta rotina, mas parece que que naquela tarde sentia-me meio desconfiado com o que o destino me poderia revelar. Enquanto lia olhava vezes sem conta para trás como que um grito surdo me estivesse constantemente a chamar. Com algum espírito de aventura e exagero, resolvi pedir uma sangria branca, assinando um acto snob e libertino. A sangria estava péssima, muito doçe, mas o gelo estava perfeito e entretime a dar cabo do esmalte dos dentes, causando impressão a quem me rodeava. À minha frente estava um casal de “bifes” daqueles com 2 metros de altura e cor de salmão. Ele bebia uma cerveja, que brevemente faria companhia a outras quantas vazias espalhadas pela mesa. Ela loira, magra, de olhos azuis, lia uma daqueles livros sobre sintra, como se estivesse a ler um românce de Richard –bach. Ao meu lado, não muito chegados estava um grupo de três raparigas, de fabrico nacional, que pertenciam a uma espécie de sociedade secreta e tinham todas o cabelo encaracolado e mala de pano à “tira colo”. Bebiam coca-colas e apenas uma, certamente a líder, fumava. A conversa estava animada e estes seres riam-se como perdidas, com uma revista que uma delas tinha trazido. Não consegui ver qual era, mas pareceu-me qualquer coisa de mulheres. A trás de mim, estava um indivíduo dos seus cinquentas e muitos anos, barba branca e óculos cansados, que lia o jornal e bebia uma imperial. Ao seu lado estava um cão, rafeiro e de tortas porporções, que se enrolava por debaixo da cadeira de pano, com a cabeça deitada nos chinelos do seu dono.
Era neste ambiente de sons variados, que me concentrava para ler a minha última aquisição.
Não passava muito das quatro da tarde, e o sol teimava em se desviar de mim, dando lugar a uma luta desenfreada pela tutela da sombra e do fresco. Foi então que uma mão se percepitou e se estendeu à minha frente.

-Então tudo bem?- Disse uma voz, jovem mas com algum receio.

Virei-me e revi em fracções de segundos todas as caras que conhecia, e sem chegar a nenhuma conclusão. Era um jovem alto, moreno, bem parecido, com vestes desportivas, e com uma cara, que realmente não me era estranha, embora desprovida de identidade. Repliquei.

-Tudo... não estou agora a ver quem é?- Disse com um sorriso meio discreto.
-Pensa lá bem?- Começando uma espécie de desafio.
-Sinceramente...? a cara não me é estranha, mas vais-me desculpar mas não estou a relacionar com nada...

Enquanto respondia ao indivíduo, este sentou-se sem pedir permissão, e fez sinal ao empregado. Naturalmente estou tramado. Pelo ar do inegrume parecia que ía ficar. Se calhar era uma daquelas testemunhas de Jeová, que se fazem muito amigas, e quando damos por nós, acordamos na marginal, nús e sem um mamilo ou uma orelha.


Alentejo... diz-te alguma coisa- apressadamente interpola-se e desculpa-se...
-Espero que não te importes que eu me sente...
“Sim, importo-me e quero que vás fazer amizades para a expo”- pensei eu...
-Não claro! Estás à vontade!- Disse com sorriso forçado
-Como eu estava a dizer, alentejo diz-te alguma coisa?- e esbuçou um sorriso.
De repente fez-se luz e Zássssss! Descubri!
-Ricardo! Acertei?!?!
-Exactamente! Vês eu sabia que ias lá....- acendendo um cigarro.
-O que é que é feito? Há quanto tempo!
-Por ai, nas aventuras que a vida me reserva...
-E os cavalos?
-Lá estão. Temos agora dois garanhões lusitanos. E tu..? nunca mais lá foste! Já não gostas de cavalos!- inclinando-se para trás na cadeira.
-Não, não é isso, é que a redacção ocupa-me muito tempo. Para além disso, passei uma fase um pouco complicada. Estou-me a separar da Inês...
-Isso é que é pior...!

O Ricardo era o tratador de cavalos, filho do caseiro, e conhecia-o desde muito novo. Era quem cuidava dos estábulos, e era considerado família, pela tia Ana. A avaliar pela maneira como a tia Ana se referia a ele, estou convencido que o pai dele e ela tinham tido uma paixoneta à antiga, à moda doutros tempos. "

1 Comments:

Blogger Contacte-nos said...

Venha o próximo!

1:57 AM  

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